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A Eterna Criança

Atualizado: 29 de mai.

No interior da alma humana existem duas crianças, uma representa as memórias de vicissitudes traumáticas oriundas da infância. Por isso é denominada de "pequeno ego". A outra criança representa em seu simbolismo uma criança divina, algo que está sempre vindo a ser e nuca está completa. Essa por sua vez, representa a personificação da consciência humana.


Segundo Jung; “Psicologicamente, a “criança” simboliza a essência humana pré-consciente e pós-consciente. O seu ser pré consciente é o estado inconsciente da primeiríssima infância; o pós consciente é uma antecipação por analogia da vida além da morte. ”(Jung, 2000, Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. OC IX/ 1 §299, p. 178).



“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa”. (Jung, 1981, O Desenvolvimento da Personalidade. OC XVII, par. 286, p. 175).


Arquétipo significa um "typos" (marca, impressão ou modelo universal), um agrupamento definido de caráter arcaico que, em forma e significado, encerra motivos mitológicos, os quais surgem em forma pura nos contos de fadas, nos mitos, nas lendas, no folclore e nos sonhos (JUNG, 2012. Psicologia e alquimia).              


Desse modo, uma vez atuando como centro base de um complexo conjunto de ideias, memorias e sentimentos carregados de uma forte tonalidade afetiva com base em experiências vividas) e tendo agrupado energia suficiente, um arquétipo pode alcançar a consciência (no formato de Imagem arquetípica ou símbolo e a partir disso influenciar o comportamento de um indivíduo, de modo positivo ou negativo; já que a estrutura de um arquétipo e bipolar, sendo dessa maneira, composta por duas polaridades energéticas (SANTANA, 2005). Acerca dessas polaridades, disserta Franz (1985. A sombra e o mal nos contos de fada. p. 179):


Pode-se dizer que o modelo de um arquétipo se compõe de duas esferas, uma luminosa e outra sombria. [: ] Cada figura arquetípica possui sua própria sombra. A criança pode representar o futuro gerativo ou a paralização do fluxo da vida. Será esta sombra um fenômeno genuíno ou será que resulta de nossa maneira de encará-la? Não se tomo a ora da consciente, como nos sonhos, que são fenômenos semiconscientes, ele manifesta sua duplicidade. Somente quando a luz atinge um objeto é que aparece sua sombra.


As emoções humanas são um fenômeno genuinamente instável, influências interiores e exteriores podem mudar todo o fluxo emocional.


Segundo o psicólogo americano Paul Eckman, existem 6 emoções básicas universais: medo, nojo, raiva, surpresa, felicidade e tristeza. Eventualmente, Eckman expandiu a lista para incluir emoções como vergonha, excitação, orgulho, satisfação, entre outras. Contudo, emoções sempre serão emoções, nenhum ser humano, com exceção da morte, deixará de senti-las. O que se modifica mediante às experiências é a consciência, isto é, a forma como podemos lidar com a emoção. A isso podemos denominar de inteligência emocional.


O Puer é mais do que uma mera criança. Ele também é divino e, então representa de algumas formas o precursor do herói [o eu/ego a pequena criança que e muitas vezes sobre-humana ou dominada de talentos importantes numa tenra idade. Os feitos de força de Hércules são exemplos dessa conexão entre Puer e a figura do semideus heroico. HOPCKE, 2012. Guia para a obra completa de C. G. Jung p. 124)


Mas para que se tome consciência do processo de individuação (tornar-se quem és; totalidade) é preciso que a consciência seja confrontada com o inconsciente e se chegue a um equilíbrio entre os opostos. Como isto e logicamente impossível, necessitam-se de símbolos que sirvam para tornar visível a união irracional dos contrários. Esses símbolos são produzidos espontaneamente pelo inconsciente e ampliados pela consciência. Os símbolos centrais desse processo descrevem o Si-mesmo [Self; Criança Interior ou divina; Deus interior, isto e, a totalidade do homem]. [...] O Si-mesmo e o homem completo, cujos símbolos são o menino divino ou seus sinônimos. (JUNG, 2012, p. 128)


Todavia: "O inconsciente só terá para nós uma função criadora de símbolos se estivermos dispostos a reconhecer nele um elemento simbólico". (JUNG, 2012. Civilização em transição, §34)


"A mão humana é corrupta e indesejável. O Homem também é sagrado [ou seja, divino]." - Me. José Gabriel da Costa


O Self (Criança divina, Puer, Deus interior e seus sinônimos) é a função transcendente e imanente, o arquétipo central do inconsciente coletivo (também denominado de psique arquetípica ou coletiva), sua função é conduzir a psique/alma individual como um todo ao equilíbrio. Por isso, disse Jung:


Deus é o nome apropriado para todas as grandes emoções que ocorrem em meu próprio sistema psíquico e que dominam minha vontade consciente, apoderando-se do controle sobre mim mesmo. E por este nome que designo tudo que se atravessa de forma violenta e desapiedada, o itinerário por mim traçado; tudo o que subverte minhas concepções subjetivas, meus planos objetivos, e interfere no curso de minha vida, seja para o bem seja para o mal. (JUNG, 2012, p.146)


Deus é uno e oposto a si mesmo. Por isso, o Puer é designado por espírito indiviso e diviso. As crianças divinas aprisionadas nos corpos nada mais são do que a divindade dispersa na matéria.




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