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Depressão: um rito de passagem

Atualizado: 29 de mai.

O que significa essa expressão rito iniciático?

Iniciação ao que?


Considerando-se que a depressão é um estado emocional que produz sofrimento e introspecção ao indivíduo, e sabendo ainda que ela propicia a perca do prazer pelas coisas que antes o satisfaziam, é um período no qual se vivencia um des(gosto), uma vida “sem sabor”, pois o que era aprazível perdeu seu gosto e de forma súbita desapareceu. Fazendo então com que o indivíduo afunde, como se algo o empurrasse e o pressionasse para baixo,

numa escuridão em que nada faz sentido.


A iniciação ou rito iniciático é isso, a pessoa é obrigada a descobrir a existência de outro mundo, diferente daquele mundo diminuto no qual estava acostumado a viver. O ego e a sua pretenção de achar que conhece todas as coisas começa por se dar conta de que há muito ainda desconhecido. Que se ele (o ego) se meter a arrogante ou a arrogar (hybris- orgulho cego; arrogância funesta; presunção tendenciosa) e tomar para ele poderes que não o pertecem e se ele não descobrir que o lugar dele é de aprendizado e não de sabedoria (ele transmite a sabedoria depois de tê-la recebido). A sabedoria é um patrimônio do Self (Deus interior), e se o ego não se fizer humilde estará em apuros pois não tem o controle, aliás, já não o tinha, e agora de maneira explícita se dá conta de que não tem controle sobre nada.


Ademais, não adianta o eu/ego inventar que está bem, é necessário admitir a tristeza, a realidade da existência do sofrimento, pois não há como escapar. Ele, estará assediado dia e noite pelo raiva, pelo ódio, pelo choro, pela tristeza, pela autorecriminação, que são sintomas típicos da depressão. Eventualmente o “eu” pode se entregar ao uso abusivo de drogas, numa tentativa alucinada de mitigar esse sofrimento, tudo para fugir do rito de iniciação.


Mas afinal, que rito de iniciação é esse? É chegar para o ego e dizer: olha toda essa história que está diante de ti, você não possui o controle sobre ela, você precisa ser paciente para escutar o que esse outro mundo no qual você se afundou diz, ele não coincide com o seu desejo, e além disse ele o revê-la que você não é onipotente. Você se achava ser o dono do mundo e agora se vê deprimido, sentindo-se a pior pessoa da face da Terra. Então, que tal se acalmar? E apenas receber a sabedoria desse mundo interior que chega como dor e sofrimento, porque todo conteúdo que esta nele contido nunca encontrou lugar na vida consciente do indivíduo. Não são apenas objetos estranhos, mas objetos que tiram o ser humano do delírio do prazer, de onipotência, em que o indivíduo faz o que quer, na hora que quer, não se importando com mais nada, nem até consigo mesmo. A depressão para a pessoa, a faz escorregar na própria “casca da banana” que ela comeu.


Porém, ao acalmar-se e permitir ser iniciada  no mundo do inconsciente, do desconhecido, da escuridão, escuridão essa que pode se tornar luz caso a pessoa se permita passar por essa transformação, por essa metanoia (transformação dos estados mentais), e tiver a humildade de reconhecer que está em apuros e permitir que o sofrimento faça o trabalho dele em seu próprio interior; que seria limpá-la por dentro, libertá-la de uma série de fantasias geralmente narcísicas em torno de si mesma, das coisas que nunca corresponderam a realidade, isso é o Rito de Iniciação, a iniciação do Ego, para que ele passe a olhar o mundo de outra forma , com mais calmaria e paciência, aberto a aprender com as novas experiências, a audição se dilata e o outro passa a existir no seu mundo, surge o desejo de se relacionar e há humildade para receber conselhos e confessar as próprias falhas e fragilidades ao outro. É um Rito de Iniciação, portanto, dizendo em uma única palavra, que conduz o indivíduo a: ser-humano.


“Não podemos nos acostumar a ideia de não sermos senhores absolutos da nossa própria casa. Sempre preferiríamos ser ‘eu’ e mais nada. Mas confrontamo-nos com um amigo, ou inimigo interior, e de nós depende ele ser um ou outro.” - C.G.Jung

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